Conhecendo o dia a dia de um artista de rua
- Eduardo Suguiyama
- 29 de nov. de 2016
- 3 min de leitura
A Se Essa Rua Fosse Minha teve a oportunidade de conhecer de perto o dia de uma artista de rua. Acompanhamos desde a preparação, maquiagem, ensaio e exercícios para a performance, que por sinal foi repetida inúmeras vezes durante o dia.

Engana-se quem acha que a vida de artista é fácil, pelo contrário, assim como na vida de um trabalhador comum, o artista também sofre com horários e começa a trabalhar bem mais cedo do que o imaginado. O horário marcado para começar os trabalhos no farol era às 14h, mas acabou atrasando cerca de 1h, devido a preparação. Em outubro, tivemos a oportunidade de acompanhar Bruno Souza (26) e Daniel Costa (25) em uma de suas apresentações, que aconteceu no bairro de Santana, na Zona Norte de São Paulo. O local escolhido não foi ao acaso e sim porque é próximo a casa de Daniel e lá os dois amigos podem se preparem para entrarem em ação em suas apresentações de palhaço. Além disso, próximo a casa existe um ótimo ponto, um farol que fecha em menos de trinta segundos e demora cerca de um minuto para abrir, ou seja, maior tempo de apresentação. Preparação Para se transformarem em palhaços os amigos demoram cerca de 30 minutos e precisam das roupas características (não pode faltar o nariz), meiões e suspensório. Além disso os dois se maquiam, passam base, pó no rosto e rímel no olho. Após toda a preparação física, começam os pequenos ensaios, eles passam a "coreografia" e a define detalhadamente para que não haja nenhum erro. Normalmente são os mesmos passos, mas Bruno diz que pode haver sim alteração. "Tem dias que resolvemos inovar em nossa coreografia, não nos sentimos bem fazendo o mesmo número inúmeras vezes". Após os ensaios e a confirmação que tudo está OK, os parceiros andam em direção a Avenida Brás Leme, que por sinal é em um cruzamento dela que eles ficarão, da casa de Daniel até o local demora cerca de 5 minutos caminhando. Apresentação Bruno e Daniel são amigos há quase dois anos, ambos se conheceram no Galpão do Circo, escola que oferece cursos regulares voltados a apresentações circenses. De lá para cá criaram uma intimidade incrível e uma grande amizade, levando para suas apresentações o entrosamento. Para desenvolver o número cada um tem que segurar três bastões e gira-los continuamente, jogando um bastão para o outro continuamente. A apresentação é tão movimentada que até quem passa na rua ou nos carros do sentido contrário ficam engajados.
A velocidade é tanta que em algumas oportunidades o bastão de um dos componentes cai no chão, mas nem por isso o número perde em elegância e beleza, com um singelo pedido de desculpas os palhaços seguem sua demonstração de alegria normalmente, como se o erro estivesse no plano. Quem principalmente se encanta com o número são as crianças, estas chegam até parar e chamar seus pais para verem e quem ainda diz que crianças tem medo de palhaços? Os mesmos ainda conquistam essas criaturas doces dando balas.

Dinheiro Sabemos também que além de querer levar a arte ao público, expor seu talento, os artistas de rua também procuram em suas apresentações o seu ganha pão e não é diferente com Bruno e Daniel. Dificilmente os amigos voltam sem uma moeda após a apresentação, todo momento em que o farol fecha é uma certeza, pelo menos uma moeda os jovens irão receber de sua platéia. Assim os dois vão enchendo uma mochila que usam para guardar todo dinheiro e assim no fim do dia dividir em quantia igual. Atualmente, os dois vivem apenas dessa ocupação e também de pequenos trabalhos que fazem, seja como ator, professor ou instrutor. Preconceito Como tudo na vida, existe um lado ruim no trabalho dos amigos, muitas vezes os motoristas com medo ou por preconceito fecham os vidros de seus carros. "Isso acaba acontecendo com maior frequência quando é uma mulher e ela está sozinha. É complicado, não queremos causar uma impressão ruim, muito pelo contrário, mas consigo entender o medo, tamanha falta de segurança que vivemos hoje em dia", diz Bruno. Os jovens se dizem vítimas da marginalização que os artistas de ruas sofrem, principalmente aqueles que se apresentam em faróis, em que muitas vezes são confundidos por pedintes. Apesar do atraso em relação ao horário previsto para começar o trabalho, Bruno e Daniel demonstraram-se felizes com o dia, principalmente por ter levado a magia da arte a alguns motoristas da cidade de São Paulo.
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